NFTs como Garantia de Ativos Intangíveis: Uma Nova Fronteira para Investidores
Neste artigo, vamos explorar como os NFTs estão sendo utilizados como garantia, os riscos e oportunidades associados a essa prática, casos de uso reais e a situação da regulamentação internacional, incluindo o contexto brasileiro. Se você é investidor, entusiasta de criptoativos, ou apenas curioso, este guia com cerca de 5 mil palavras foi feito para você.
PROPRIEDADE INTELECTUALFINANÇAS
Gabriel D. Cardoso
6/22/20256 min read


Você já ouviu falar em NFTs sendo usados como garantia de empréstimos? Essa aplicação, que parecia improvável há poucos anos, está rapidamente se tornando uma realidade no universo da blockchain e finanças descentralizadas (DeFi). Os tokens não fungíveis (NFTs) evoluíram de simples obras digitais de arte para potenciais colaterais financeiros, abrindo um novo capítulo no uso de ativos intangíveis em operações de crédito.
O que são NFTs?
Definição básica de NFT
NFT é a sigla para Non-Fungible Token (token não fungível), um tipo especial de ativo digital baseado em tecnologia blockchain. Ao contrário de criptomoedas como Bitcoin ou Ethereum, que são fungíveis (ou seja, cada unidade é igual à outra), os NFTs são únicos e indivisíveis.
Cada NFT representa um ativo específico, como uma imagem, vídeo, item de jogo ou até mesmo um documento digital. Esses tokens trazem metadados e certificados digitais que provam sua autenticidade e propriedade, armazenados de forma segura na blockchain.
Breve histórico do mercado NFT
Os NFTs ganharam fama entre 2020 e 2021, quando artistas digitais começaram a vender suas obras como tokens digitais. O caso mais notório foi o da obra "Everydays: The First 5000 Days", vendida por US$ 69 milhões na Christie’s.
Logo, celebridades, marcas e empresas entraram no mercado, criando coleções exclusivas. Mas o uso de NFTs não se limitou à arte digital: começaram a surgir aplicações em jogos, imóveis virtuais, identidade digital e, mais recentemente, em finanças descentralizadas.
NFTs como ativos intangíveis
Os NFTs são classificados como ativos intangíveis digitais, já que não existem fisicamente, mas têm valor econômico. Sua natureza os torna comparáveis a propriedade intelectual, software ou direitos de marca, ativos cada vez mais valiosos no mundo contemporâneo.
É justamente essa característica que os coloca no centro da inovação em garantias digitais e empréstimos colateralizados por ativos não convencionais.
Como NFTs estão sendo usados como garantia
A lógica por trás do colateral digital
O conceito de usar ativos como garantia em empréstimos é antigo: imóveis, ações e até joias podem servir como colateral. Mas e quanto a ativos digitais únicos como NFTs?
No contexto DeFi, os NFTs podem ser bloqueados em contratos inteligentes para garantir um empréstimo. Caso o tomador não pague a dívida, o credor recebe o NFT. Isso proporciona liquidez temporária sem que o usuário precise vender seu ativo.
Plataformas que permitem o uso de NFTs como colateral
Diversas plataformas estão liderando essa inovação:
NFTfi: pioneira no mercado, permite que usuários ofereçam NFTs como colateral para obter empréstimos em criptomoedas.
Blend (da Blur): protocolo peer-to-peer de empréstimos com NFT, que rapidamente ganhou grande participação de mercado.
Binance NFT Loan: permite obter ETH emprestado com base em NFTs populares como BAYC e Azuki.
Astaria e Wasabi Protocol: novos players com soluções específicas de liquidez para coleções NFT.
Funcionamento prático
O tomador conecta sua carteira a uma dessas plataformas.
Escolhe um NFT elegível e o bloqueia como garantia.
Define valor do empréstimo, taxa de juros e prazo.
O NFT fica bloqueado até o pagamento da dívida.
Caso haja inadimplência, o credor assume a posse do token.
Esse processo é feito via contratos inteligentes e, em tese, sem intermediários tradicionais.
Casos reais de uso e tendências
Volume de mercado
Segundo relatório da CoinDesk, a plataforma NFTfi movimentou mais de US$ 12 milhões em empréstimos desde sua criação, com operações médias de US$ 26 mil.
Com o lançamento do Blend, o volume de empréstimos com NFT saltou mais de 400% em 2023. Já a DappRadar apontou uma queda de até 95% nesse mercado em 2025, refletindo alta volatilidade e liquidez instável.
Exemplos de uso
Investidores com NFTs valiosos (como da coleção CryptoPunks) usaram os tokens para obter empréstimos em ETH e reinvestir em outras operações.
Criadores digitais usaram seus próprios NFTs como colateral para financiar novos projetos.
Alguns projetos experimentais usaram direitos autorais tokenizados como garantia em negociações privadas.
Tendências futuras
Com a evolução dos protocolos, espera-se:
Tokenização de ativos reais com uso financeiro (patentes, contratos, marcas).
Desenvolvimento de índices de avaliação para NFTs.
Avanço da regulamentação jurídica permitindo o uso formal em bancos e fintechs.
Comparação com ativos tradicionais como garantia
O que torna um ativo elegível como colateral?
Os bancos e corretoras usam critérios rigorosos para definir quais ativos podem servir como garantia:
Liquidez: deve haver mercado fácil de compra e venda.
Estabilidade de valor: oscilações mínimas.
Transparência na precificação: preço claro, com cotação pública.
Reconhecimento jurídico: deve ser legalmente transferível.
Onde os NFTs se encaixam?
Baixa liquidez: muitos NFTs não têm compradores constantes.
Alta volatilidade: valores sobem e caem abruptamente.
Precificação subjetiva: valor depende de hype, arte e contexto.
Reconhecimento jurídico limitado: nem sempre é claro se o NFT transfere direitos autorais.
Por isso, os NFTs ainda não são aceitos por instituições financeiras tradicionais como ativos elegíveis para garantia. No entanto, no ecossistema cripto, o uso como colateral alternativo é promissor.
Riscos do uso de NFTs como garantia
Volatilidade de preço
O maior risco é a flutuação abrupta de valor. Um NFT valioso hoje pode perder quase todo o valor amanhã.
Liquidez limitada
Na inadimplência, o credor pode ter dificuldade de vender o NFT.
Riscos jurídicos
Posse de NFT não garante posse sobre a obra digital vinculada.
Falta de contratos claros pode gerar litígios.
Risco de liquidação forçada
Alguns protocolos liquidam automaticamente os NFTs em caso de queda de valor, sem aviso prévio ao tomador.
Falta de regulação
Há pouca ou nenhuma proteção legal caso ocorra fraude, perda de NFT ou descumprimento contratual.
Critérios de Avaliação de NFTs
Como se calcula o valor de um NFT?
Avaliar NFTs é um desafio técnico e subjetivo. Diferente de ativos tradicionais, seu valor não é determinado por fluxo de caixa futuro ou múltiplos de mercado, mas por uma combinação de fatores que envolvem tecnologia, escassez, percepção de valor e contexto social. Os principais critérios utilizados incluem:
Raridade e escassez: Quanto mais raro o item dentro de uma coleção (por exemplo, traços únicos em um CryptoPunk), maior o seu valor potencial.
Demanda de mercado: A procura ativa por determinado NFT ou coleção influencia diretamente seu preço. Métricas como volume de vendas e número de detentores são indicativas.
Histórico de propriedade (proveniência): NFTs com donos famosos ou história relevante agregam valor. A transparência da blockchain permite verificar a autenticidade e origem.
Utilidade e função: NFTs que oferecem benefícios (como acesso exclusivo, participação em jogos ou direito de voto) são mais valorizados.
Popularidade da coleção: Projetos como Bored Ape Yacht Club ou Azuki possuem comunidades engajadas e liquidez mais alta, o que contribui para a valorização.
Liquidez esperada: NFTs que costumam ser negociados com frequência são mais atrativos como garantia, pois oferecem menor risco ao credor.
Modelos automatizados e algoritmos de avaliação
Algumas plataformas adotam algoritmos de precificação automatizada, que cruzam dados de mercado, raridade e histórico de vendas. Ferramentas como Upshot, NFTBank e Value.app oferecem estimativas baseadas em machine learning e análises preditivas. No entanto, essas avaliações devem ser interpretadas com cautela, pois podem não refletir choques súbitos de mercado.
Avaliação para fins de colateral
Quando um NFT é proposto como garantia, as plataformas precisam estimar seu valor com critério conservador, normalmente aplicando um loan-to-value (LTV) entre 20% e 50% do valor estimado do NFT. A escolha do parâmetro LTV considera:
Volatilidade histórica da coleção.
Facilidade de revenda em caso de inadimplência.
Qualidade da avaliação de terceiros (quando disponível).
Tipo de NFT e seu uso econômico.
Além disso, algumas plataformas mantêm listas de NFTs elegíveis com curadoria própria, o que limita o risco e aumenta a previsibilidade.
Regulamentação internacional
Estados Unidos
O Uniform Commercial Code (UCC) já reconhece NFTs como "intangíveis".
Emendas propostas em 2022 querem classificá-los como "Registros Eletrônicos Controláveis".
Adoção depende dos estados.
União Europeia
O regulamento MiCA exclui NFTs da sua abrangência.
Aplicam-se as leis tradicionais de propriedade e contrato civil.
Brasil
O PL 4.401/21 reconhece ativos virtuais, mas sem especificar NFTs.
Não há regulação direta de uso como garantia.
Uso depende de contratos privados e reconhecimento judicial.
Oportunidades para investidores
Para quem já tem NFTs
Obter liquidez sem vender ativos.
Diversificar carteira usando recursos captados.
Para investidores institucionais
Inovar na composição de garantias.
Explorar novos produtos de crédito.
Para fintechs e bancos digitais
Desenvolver linhas de crédito garantidas por NFTs tokenizados com contratos inteligentes.
Atrair público jovem e digital.
NFTs como colateral — oportunidade ou risco?
O uso de NFTs como garantia é uma das fronteiras mais ousadas das finanças digitais. Embora ainda traga muitos riscos — como volatilidade, liquidez e incertezas legais —, há um potencial transformador se houver amadurecimento técnico, jurídico e mercadológico.
Para investidores atentos, essa pode ser uma nova forma de captar recursos ou explorar produtos financeiros inovadores. Mas é essencial avaliar bem o projeto, usar plataformas confiáveis e entender as regras jurídicas de cada jurisdição.
Se você está considerando emprestar, tomar empréstimos ou investir nesse setor, o conselho é claro: estude profundamente, diversifique sua exposição e acompanhe os movimentos regulatórios.
Gostou do conteúdo? Compartilhe este artigo e assine nossa newsletter para receber mais novidades sobre NFTs, criptoativos e inovação financeira.